domingo, 9 de março de 2008

Buenos Aires, uma primeira impressão

Cheguei em Buenos Aires no dia 4 de março. Depois de um peculiar trajeto de avião Florianópolis-São Paulo-Buenos Aires, tomei um taxi no aeroporto internacional de Ezeiza, uma cidade a 35km do centro de BsAs. Já no avião uma brasileira que sentou ao meu lado alertou-me para tomar cuidado com os taxistas do aeroporto, que costumam cobrar muito caro e devolver o troco em notas falsas, segundo ela.

Com esta informação na cabeça, ainda dentro do aeroporto, passei pela imigração sem precisar trocar uma palavra com o agente argentino, que apenas abriu meu passaporte e o carimbou. Pensei em tomar um ônibus, mas a bagagem era muita e pesada e não saberia como chegar ao hostel. Vi um taxista que, por puro preconceito meu, parecia honesto por estar batendo um papo com o passageiro que estava descendo de seu taxi no aeroporto. Fui todo o caminho conversando com o motorista, que era muito gente boa. Claro, não conseguia entender tudo que ele falava, e tinha que responder com meu espanhol ao estilo do inglês das aeromoças da Gol linhas aéreas.
Ele adora o Brasil, e logo a conversa tomou o rumo do turismo em Florianópolis, depois o futebol: é torcedor do Estudiantes, e tem admiração pelo Inter de Porto Alegre. Falou-me muito sobre a cidade, mas confesso não ter entendido muita coisa, pois, além de ele falar um pouco rápido, parecia pressupor que um cidadão recém chegado já sabe quais são e onde ficam as principais ruas de Buenos Aires. A viagem me custou 70 pesos, que é mais ou menos o que se gasta do aeroporto de Congonhas até a Av. Paulista (São Paulo), pelo que me lembro.

O hostel que estou é muito bom (www.snhostel.com). A estrutura é boa, é limpo e o pessoal que está por aqui é bacana. Há, ou já houve desde que cheguei, gente da Suécia, Brasil, Colômbia, Israel, Austrália, Chile... e mais que já não me recordo. É muito bem localizado, na rua Bartolomé Mitre, 1600 e pouco, paralela a Av. Rivadavia, que passa ao lado da praça e do palácio do Congresso de la Nación Argentina, que é um prédio muito bonito (o hostel fica, na verdade, na esquina da Bartolomé Mitre com a Rodriguez Peña, e a foto é desta última, tirada da janela do quarto onde estou). Há metrô muito perto, a Línea A, que é a linha mais antiga, com uns trens bem velhos, com bancos de madeira, iluminação antiga, mas que funcionam muito bem e passam de 5 em 5 minutos. O bom das ruas aqui é que as quadras são mais ou menos sempre 100m x 100m, com ruas retas, o que facilita muito a localização. Ainda assim, como a cidade é enorme, é bom utilizar o "Guia T de Bolsillo", que é um pequeno guia de bolso muito bem feito, com mapas da cidade e indicações muito completas sobre as linhas de ônibus e de metrô. Até os nativos usam este guia. É bem melhor que andar por aí com um mapa enorme e aquela cara de turista.

Ao que parece, já até me passo por nativo, uma vez que por três vezes já vieram me pedir informações na rua como se eu fosse um velho porteño calejado de andanças por todas as ruas da cidade.

Os porteños, ao contrário do que muitos me disseram no Brasil, são muito gentis e atenciosos. Ao menos os que conheci até agora e claro que estas generalizações são perigosas, mas quando peço informação na rua sempre tenho uma resposta boa e gentil. Hoje, por exemplo, estava almoçando e quando fui pagar o garçon viu que eu tinha alguns Reais. Foi a deixa para ele arriscar um português.

Na noite passada fui a um tango em Almargo, um bairro não muito turístico, mas muito bacana. Estava com um amigo do Brasil, uma austríaca, uma alemã e um alemão, pessoal muito gente fina. O bar que íamos estava fechado, entao procuramos outro, depois de tomarmos umas cervejas em um restaurante. O outro era um bar mais formal, com pessoas mais velhas (bem, não conhecendo a cidade, as vezes nos metemos em umas dessas), mas a senhora que administra o bar foi tão atenciosa que resolvemos entrar, todos vestidos como viajantes surrados pela vida no albergue, destoando completamente dos demais. Não precisamos pagar a entrada; a senhora fez questão que nos sentássemos sem pagar e nos atendeu muito bem. Ainda cabe um destaque a staff do hostel e aos professores e funcionários da universidade que atendem os estudantes estrangeiros; são todos muito profissionais e atenciosos, sempre ajudando. Estou realmente surpreso com a gentiliza dos porteños que conheci até agora. Vale dizer ainda que fui e voltei a pé deste tango (uns 2km dos meu hostel), e a rua estava movimentada e com um clima seguro, mesmo as 4 da matina.

Outra coisa que me deixou surpreso é o incrível atraso da Universidad de Buenos Aires quanto ao sistema de matrícula e aquelas coisas todas que quem conhece o "cagr" da UFSC está acostumado. Se nós da UFSC reclamamos do cagr, devemos ver como é na UBA: não há NADA na internet. Toda matrícula tem que ser feita em papel, pessoalmente, depois de ir à universidade para ver quais são as matérias e as datas expostas em um mural. Não, nem as matérias e datas estão na internet. A matrícula é feita em alguns dias, e os estudantes divididos de acordo com a primeira letra do nome (ou do sobrenome, nao sei); na quarta, por exemplo, os alunos começados com D até G devem ir fazer a matrícula, e assim vai. Felizmente os intercâmbistas fazem a matrícula de outra forma, mais simples e sem filas, mas pegam o rolo das datas e dos programas das disciplinas, que também não estão na internet e têm que ser lidos nos departamentos de cada curso. Além disso, a UBA é uma universidade gigantesca, com 300mil alunos, que é quase a população de Floripa, então as faculdades e escritórios da universidade são espalhados pela cidade, o que dificulta um pouco minha vida quando se trata de ir resolvendo as burocracias.

Na segunda me mudo para o alojamento da universidade, que é um pouco distante do centro e da minha faculdade. Felizmente o transporte coletivo, até agora, me parece muito bom. De maneira geral a cidade me agrada muito; há muito movimento, funciona tudo até bem tarde, parece haver uma forte movimentação política, pois há sempre algum tipo de manifestação perto dos prédios do governo, mesmo que pequena. O que mais vi nesses dias em relação a isso é um movimento dos veteranos da guerra das Malvinas, que devem ter ficado sem suporte do governo. Ontem mesmo, por acidente, me meti numa rua onde havia uma pequena manifestação, em frente a algum prédio do governo da cidade, onde havia no mínimo uns 3 policiais pra cada manisfestante. Essas coisas me perseguem, mas só passei por ali pra dar uma olhada e logo me fui; estava no meio do meu caminho.

A temperatura está muito agradável todos esses dias, mas está quase sempre nublado e as vezes chuvoso. O ar é que não é lá tão bom, vi até um jornal em uma banca, ou kiosco, cuja matéria de capa era "Ciudad de los Malos Aires". Nas avenidas principais, de trânsito pesado, a poluição é sentida, e as ruas são sujas, como em toda grande cidade brasileira. A cidade tem muitos prédios que me parecem muito bonitos, com uma arquitetura bastante refinada e muitos prédios antigos bem conservados. Ainda não saí com a câmera para tirar fotos, mas quero fazer isso logo, até porque tenho andando muito pela cidade: ontem estive, com o mesmo pessoal do tango, em San Telmo e la Boca, onde vi la Bombonera, palco do afundamento de muitos clubes brasileiros de futebol, e o caminito, área de muitos turistas.

Bem, já estou cansado de escrever por agora e, se alguém chegou a ler até aqui, também já deve ter se aborrecido com o texto, por isso paro por aqui. Continuo nos próximos dias.

7 comentários:

Anônimo disse...

Espero que pelo menos para ti nunca mude e continue a "ciudad de los buenos aires". hasta siempre :)

Anônimo disse...

Eis um belo exercício de literatura de viagens. Gostei e fico esperando pela próxima crónica. Parabéns Jorge!

Luís

jorge disse...

Visitas ilustres no blog! :-)

Admin disse...

é isso aí, meu camarada! a viagem já está começando a tomar seus rumos mais profundos, pelo que posso perceber. daqui há pouco completa seu primeiro mês e me alegra saber que está tudo onde deveria estar; como planejado (até a existência do impoderável). espero que consiga abrigar muitas histórias e recordações dessa passagem. que as ruas de bons ares possam te acolher bem e que você continue escrevendo tudo! hehehe.

fica ligado no meu blog - retratos.blogdrive.com - estou retornando à escrever, sabe como é... voltei do Rio transbordando, agora é a hora de acertar o caminho das águas.

saudades,

y.

Unknown disse...

Olá jorge, parabéns pelo blog, seu relato foi muito interessante para mim. Estou indo pra argentina no começo de julho, justamente para conversar com os professores da uba sobre um possível doutorado lá nas minhas áreas filosofia/direito. Gostaria de me comunicar com você e quem sabe pegar umas dicas sobre a cidade. meu email é : adilson_ferraz@hotmail.com

Abraço

Adilson

Midori disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oi jorge..
gostei do seu blog.. das suas primeiras impressoes da Argentina..
me interesso mto em ir estudar na UBA..
se n fosse mto incomodo, vc poderia tirar algumas duvidas minhas.. q documentos foram necessarios levar p vc fazer a matricula?! ate qdo pode ser feita..
desde ja agradeco..

meu e-mail eh midorifj@hotmail.com